L'Ecole des Ventiloques

por | jun 18, 2012 | Eventos, Resenhas, Sem categoria

Olá, não-leitores!

 

Dessa vez não vai ser a resenha de um livro, mas sim de uma peça.

A peça se chama L’ecole des ventiloques, ou A escola de ventríloquos, e depois de assisti-la tive certeza de uma coisa e uma coisa apenas.

Foi a melhor peça que já vi na vida.

Sem eufemismos, puxação de saco ou sei lá o quê. Uma simples constatação.

A peça é da companhia Point Zero, da Bélgica, e encenada toda em francês (mas com uma bela legenda pra ajudar…haha), embora houvessem momentos em que eles tentavam falar algumas coisas em português (como um “boa noite” super simpático do Santo com um sotaque carregadíssimo, ou em que falavam de um banquinho que havia no palco “um béenquenho! de pléestico!”), e veio a Lorena por culpa da Cena Brasil Internacional, que passou pelo Rio de Janeiro, acaba hoje em Lorena e já está em São Paulo, então, se conseguirem corram para lá. Essa companhia também encena Trois Veilles, Três Velhas, e tudo com fantoches. Embora o conceito de “fantoche” seja abordado plenamente nessa peça. Infelizmente não pude ir em mais nenhum, por motivo de estudar à noite, e quase todas as peças em que queria ir fossem nesse horário, mas essa compensou deixar de cochilar.

Ela trata de Celestino, um homem que cai numa cidade/prisão de ventríloquos, é uma escola. Onde seres humanos aprendem a criar seu boneco(a criar suas máscaras) e dar sua alma a ele, se tornando um mero escravo. Só com isso já dá pra ter uma noção da complexidade da mesma, não?

E a jornada de Celestino em criar o boneco, entender o processo de funcionamento do lugar, tudo controlado e regido pelo “Diretor”, uma clara alusão do Big Brother de George Orwell(se você só conhece o outro “big brother” corre ler ou assistir o filme que está perdendo muito…) se mostra tocante, hilária em momentos e explícita em outros.

Cheia de alusões, metáforas e indicações explícitas de uma irrealidade em que todos preferem viver, a peça consegue tratar de forma sensível as questões de inversão de valores, da prisão fantasiada de liberdade, onde só se afunda cada vez mais, do sacrifício, dos falsos deuses que regem a sociedade e a vida de todos, do verdadeiro propósito da vida, de Deus, da crueldade, da “cegueira” voluntária (uma das melhores cenas, se é que consigo eleger uma, e que consegue fazer chorar no fim), da alma que é vendida pela comodidade da obediência (outra cena em que seus olhos marejam violentamente), da cegueira causada pelos extremos da Lei, da ditadura, dos estudiosos que tudo sabem e das religiões que julgam-se donas da verdade e acabam cegas em suas próprias regras, da “lei que se não é dura, não é lei”, da sociedade que não aceita qualquer coisa que não pareça fazer parte e a suprime de forma dramática, sem ao menos perceber o que acabou por fazer.

E tudo isso em 80 minutos.

80 minutos preenchidos com pessoas, bonecos do tamanho de seres humanos (a interpretação nessas horas foi incrivelmente trabalhada), vídeos que remetem ao Big Brother, bonecos fantasiados de pessoas, pessoas fantasiadas de bonecos e um trabalho cenográfico incrível.

A primeira peça dessa companhia começou em 1993, e logo nela já ganharam o Prêmio de Teatro para Melhor Espetáculo, e é uma companhia financiada pelo Ministério da Cultura (olha só, né…). E por isso, nada mais justo do que colocar os nomes de todos que participaram nessa incrível peça.

Direção: Jean-Michel d’Hoop
Interpretação: Cyril Briant, Sébastien Chollet, Pierre Jacqmin, Emmanuelle Mathieu, Fabrice Rodriguez, Romain Anne e Isabelle Wery
Figurino e Bonecos: Natasha Belova (um super mágico parabéns pra ela)
Música – Composição e Interpretação: Pierre Jacqmin
Intervenção de vídeo: Michel Hébert
Cenografia: Aurélie Deloche, Michel Hébert, Natasha Belova e  Jean-Michel d’Hoop
Iluminação: Xavier  Lauwers
Assistente de Direção: Coralie Vanderlinden
Tradução: Brontis Jodorowsky
Produção: Catherine Ansy

Então, se tiverem a oportunidade assistam! (tentei ver se conseguia tirar uma foto ou conversar com os atores, mas estava tão cheio que acabei saindo antes de poder fazê-lo…)

Até o dia 24 a Cena Brasil Internacional continua em São Paulo! Confiram a programação e corram pra lá!
A programação pode ser visualizada AQUI!

Enjoy!

Ps.: Todas as fotos peguei da página do facebook  da Cena Brasil Internacional.

1 Comentário

  1. Jeferson

    Sua puxa-sac….não. É um dos melhores espetáculos que já vi também…fui por insistência de um ser muito significativo pra mim, e não me arrependi. A pegada 1984 já faz o clima necessário pra ser bem mais que um teatrinho no fim de semana…:)

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