As cartas são de Van Gogh para seu irmão Théo, escritas entre julho de 1873 e 1890. Mostram um pintor atormentado diante das questões apresentadas pela sociedade e que confronta modelos e costumes. Suas telas eram jorros de substância incendiária, bombas atômicas cujo angulo de visão, ao contrário de toda a pintura com prestígio em sua época, teria sido capaz de perturbar seriamente o conformismo espectral da burguesia do Segundo Império.
E de uma forma sensível e emocionante, se consegue ver uma outra faceta de Vincent Van Gogh em Cartas a Théo.
Comecei a ler o livro por culpa de uma oficina de teatro que estou fazendo na faculdade e cuja temática é, obviamente, a vida de Vincent Van Gogh.
Já li algumas coisas sobre o pintor, e assisti grande parte dos filmes do moço (tem todos que vi lá no perfil do filmow,(estão entre os primeiros) todos valem muito a pena, a propósito) não sabia tão a fundo sobre ele, apenas aquele clichê, o cara era meio variado, cortou a orelha, e pintava absurdamente bem. Aqueles quadros que tinham muita alma. E fim.
Além disso, não sabia muito do mesmo.
Esse livro vai tratar das cartas que Vincent escreveu a seu irmão mais novo, Théo. E a única parte ruim é que a gente fica preso à um lado da história somente, não dá pra ler as cartas de Théo a Vincent, infelizmente. Essas cartas foram compiladas pela esposa do Théo depois da morte do marido apenas 6 meses depois do suposto suicídio de Vincent. (suicídio que na verdade há controvérsias atuais, por isso o “suposto”, há um historiador que diz que talvez tenha sido um tiro acidental por outra pessoa).
Mas ao ler as cartas… cartas que da mesma forma que os quadros tem tanta, mas tanta alma, tanto sentimento, que ao terminar o livro, parece que você conheceu o Vincent, dá vontade de pegar papel e caneta e responder as cartas dele.
É de certa forma, um livro biográfico, mostra como ele via a natureza, aquele jeito inovador de encarar as cores, de ver as formas e pensar no que realmente importava ser pintado. Como ele considerava os tons da natureza como realmente eram, e não o que pareciam ser, e estava aí o desafio da natureza, tentar enxergar como ela é. Não como seus olhos a traduzem.
Dá pra sentir também o desespero, aquela depressão de uma vida inteira de trabalho não reconhecido, de ter sido sustentado pelo irmão mais novo a vida toda, enquanto se dedicava completamente à arte. Tão completamente que deixava de comer e dormir pra comprar material. O que acabou por denegrir sua saúde também, já delicada.
Deu pra ver também, um traço de personalidade extremista dele. Ou era 8. ou era 80. Acabou. Talvez seja esse traço mais nórdico que tinha, mas ele era extremamente imediatista, o pensamento se tornava firme em sua mente, ele o fazia sem pensar duas vezes, como quando saiu andando de uma cidade à outra a pé, porque queria conversar com um pastor sobre sua demissão, no meio da noite.
Sua sensibilidade me tocou muito, tanto que li rapidamente no meu tempo livre (demorei um pouco mais devido à esse tempo livre ser mais escasso que eu queria. haha) e foi incrível todas essas interpretações, todas as frases incrívelmente lindas que podem ser lidas, escritas por um homem que diziam não ter o dom da palavra, pelo menos para a profissão de pastor calvinista na época. O livro pode ser meio cansativo por vezes, mas é muito útil para analisar a sociedade artística e em geral da época, além de ser uma ótima oportunidade para pesquisar todos aqueles quilos de nomes citados.
Mas, não é um livro pra se ler sem um repertório da obra dele à vista, ou alguns dados biográficos do pintor. Senão fica extremamente maçante e meio fora de contexto, justamente por termos apenas um lado da conversa transcritos.
É um livro que vale imensamente a pena ler, e que faz as obras dele fazerem muito, muito mais sentido, mesmo que as achasse belíssimas antes, agora elas tem outra vida para mim.
“Pois bem, sabe o que eu espero, uma vez que recomeço a ter esperanças? É que a família seja para você o que para mim é a natureza, os torrões de terra, a relva, o trigo amarelo, o camponês, ou seja, que você encontre em seu amor pelas pessoas motivo não só para trabalhar mas com que se consolar e reerguer-se, quando necessário.”
Página 278.
Cartas a Théo
Editora: L&PM Pocket
Autores: Van Gogh
Páginas: 420
E finalmente no Tumblr você pode encontrar outros trechos que selecionei da obra!
Alguém sabia mais algo sobre o exímio pintor, ou também só achava que ele era meio piradinho e tinha cortado a orelha porque não tinha conseguido pintá-la? (o que também não ocorreu assim e teve a ver com Gauguin HAHA)
É estranho saber que Van Gogh teve um pouco de sua vida bastante atormentada, apesar de muitos dos seus quadros demonstrarem o contrário.
Também acho ruim essa coisa das cartas: a gente só conhece um lado da história. O outro fica quase que sem opinião.
Abraços.
Então, a vida dele foi super complicada ainda mais porque tinha crises violentas de epilepsia… então adicionava tudo isso.
Abraços!
Na verdade Van Gogh não cortou a orelha inteira como algumas pessoas pensam,ele cortou o lóbulo.
Olá, Ane!
Exatamente! E depois fez uma reconstrução do lóbulo para melhorar a aparência 😉
As pessoas gostam de aumentar uma história quando ouvem, rsrs, e isso aconteceu com Van Gogh também.
Abraços!