Pra começar o ano, um combo de Desventuras em Série, pra achar que sua vida está ótima. E já começar refletindo sobre a sociedade.
E estamos de volta à ativa nesse lindo verão escaldante de Mordor! *todos aplaudem e morrem de insolação*
Para quem acompanha o perfil da pessoa aqui no Skoob, viu que comecei uma maratona louca e frenética para tentar terminar os 13 livros de Desventuras em Série antes do ano acabar. Quaaase consegui. Na correria que continuou no fim de ano, faltaram 2 livros, o 12 e o 13, mas que concluí logo depois.
Faz um tempo (anos) que tento terminar a coleção das Desventuras em Série do Lemony Snicket, afinal de contas, coitado, passou tanto tempo pesquisando a trágica vida dos Baudelaire que precisava honrar seu árduo (que significa “penosamente trabalhoso e muitas vezes passando por situações em que poderia morrer”) trabalho, mesmo que ele dissesse para não lermos.
Em vez de fazer 13 posts de resenhas sobre cada livro, decidi fazer diferente. Compilar as 13 dedicatórias à Beatrice (choquei-me no final de O Fim.) e comentar como se fosse apenas um grandíssimo livro de 170 capítulos.
Apesar de ser um livro infanto-juvenil, Lemony Snicket ou Daniel Handler, já que até o narrador é um personagem na história, trata profundamente da sociedade e suas hipocrisias. Em todas as situações em que as crianças estavam metidas todos os adultos “responsáveis e honrados” sempre lhe deixavam na mão, elas não conseguiam contar com ninguém além delas mesmas. As pessoas não viam através de um disfarce tosco de Conde Olaf, já que ele sempre tinha um cartão com outro nome, ou uma plaquinha no caso de quando foi Shirley. Porque um cartão ou um jornal sempre falarão a absoluta verdade. O Pundonor Diário, o jornal mais lido de lá, só errava as matérias, desde os acontecimentos aos participantes desses acontecimentos. Mas todos os adultos honrados e responsáveis acreditavam cegamente no que estava escrito.
Em outros casos a lei pode ser absurda, como aconteceu na Cidade Sinistra dos Corvos, como a ausência de livros que quebrassem qualquer lei, então, um livro de leis era proibido. Mas ninguém questiona as leis. Ou no caso de Ishmael, que sempre faz as pessoas cederem à “pressão dos pares”, não força ninguém a nada, mas “sugere” o que fazer de certa forma enfática.
As Desventuras em Série trazem críticas pesadíssimas à sociedade, críticas que nós mesmos ao crescer esquecemos e acabamos “cedendo à pressão dos pares” ou acreditando cegamente em qualquer coisa ou pessoa, só porque ela tem uma credencial ou outros acreditam. Não há questionamento, não há pesquisa. Há uma aceitação pura e ignóbil de tudo como é. E de como os mistérios sempre se acumulam, e não há jeito de saber tudo, já que uma coisa leva a outra, que leva a outra, que leva a outra. Além de que o papel de um pai é ajudar seus filhos à sobreviver à toda sorte de Desventuras em Série que vão aparecer em sua vida. Certamente que vão. Ficar escondido em um lugar seguro não é o melhor jeito de viver. Além de que essa bússola moral que nos parece tão clara quando somos crianças, de que o certo e o errado são tão explícitos que achamos nunca ser capazes de cometer uma perfídia, é tão tênue. Essa linha entre o que é perfídia e o que não é, e quando temos essa tal escolha de Hudson, onde não temos realmente uma escolha, fica cada vez mais difícil discernir. E cabe a nós decidir para onde essa bússola moral aponta, e não esquecer de usá-la de vez em quando…
Confesso que fiquei com medo quando comecei a ler O Fim, achei que tantas desventuras iriam culminar com uma tragédia. Mas fiquei imensamente satisfeita com o fim de O Fim (haha) e as ilustrações do pobre senhor Brett Helquist, que teve que acompanhar as Desventuras do Baudelaire são incríveis também.
Quanto à escrita. Lemony Snicket é genial. E seu jeito de levar a história é super criativo e muito particular, apenas com um trecho você reconhece quem está escrevendo, e o senso de humor dele é magnífico para minha pessoa. Além do fato de criar um autor que participe da história, esteja passando por problemas durante a escrita e deixe mensagens secretas para sua irmã no meio do caminho.
Além de usar uma penca de palavras difíceis e explicar. haha
Vamos então às incríveis dedicatórias para Beatrice!
Em Mau Começo (livro 1):
Para Beatrice –
Querida, adorada, morta.
Em A Sala dos Répteis (livro 2):
Para Beatrice –
Meu amor por você viverá para sempre. Você não teve a mesma sorte.
Em O Lago das Sanguessugas (livro 3):
Para Beatrice –
Preferia que você estivesse viva e com saúde.
Em Serraria Baixo-Astral (livro 4):
Para Beatrice –
Meu amor voou como uma borboleta
Até a morte pousar como um morcego.
Como disse a poeta Emma Montaria McElroy:
“Aí acabou-se a história”.
Em Inferno no Colégio Interno (livro 5):
Para Beatrice –
Você estará sempre no meu coração,
na minha memória
e no seu túmulo.(Essa é minha preferida, HAHA)
Em O Elevador Ersatz (livro 6):
Para Beatrice –
Quando nos conhecemos, minha vida começou.
Logo depois, a sua terminou.
Em A Cidade Sinistra dos Corvos (livro 7):
Para Beatrice –
Quando estávamos juntos, eu ficava sem fôlego.
Agora, foi você quem ficou.
Em O Hospital Hostil (livro 8):
Para Beatrice –
O verão sem você é frio como o inverno.
O inverno sem você é mais frio ainda.
Em O Espetáculo Carnívoro (livro 9):
Para Beatrice –
Nosso amor partiu meu coração,
e parou o seu.
Em O Escorregador de Gelo (livro 10):
Para Beatrice –
Quando nos conhecemos você
tinha a beleza e eu, a solidão.
Agora, só tenho uma bela solidão.
Em A Gruta Gorgônea (livro 11):
Para Beatrice –
Mulheres mortas não contam histórias.
Homens tristes as escrevem.
Em O Penúltimo Perigo (livro 12):
Para Beatrice –
Ninguém conseguiu extinguir o fogo do meu amor,
nem o da sua casa.(outra preferida, HAHA)
Em O Fim (livro 13):
Para Beatrice –
Meu amor apareceu,
o mundo empesadeleceu.
Desventuras em Série Livros 1 a 13
Autores: Lemony Snicket e Brett Helquist (ilustrações)
Páginas: Vish.
Editora: Cia. das Letras
E foi isso.
Aí está o fim da minha maratona de Desventuras em Série. Estou com minha honra restaurada nesse primeiro post do ano! HAHA
Alguém já leu e teve outra reflexão a fazer? E ficou tenso porque muitos mistérios sobraram como o passado duvidoso do Conde Olaf? E o porque dele não tomar banho?
Até mais pessoas e vamos que o ano só começou! 😀
Ps.: O post especial sobre o lançamento ainda não está no ar por conta de não ter conseguido pegar todas as fotos… 🙁 Aguardem.
Delícia começar o ano terminando algo assim, não? É meio que uma questão de honra, então te entendo. Morri de rir com as dedicatórias ‘a Beatrice. Ótimas mesmo!
Enfim, não tenho vontade de ler a série, mas não sei explicar o motivo.
Beijos.
Sim!
Super sentimento de dever cumprido, haha
O Lemony Snicket consegue deixar tudo que é mórbido mais aceitável com essas dedicatórias!
Beijos!
Oi, Camila!
Você não tem ideia do quanto quero ler esta série, ainda mais agora, que me fez recordar por que a quero tanto, haha.
Ri muito com as dedicatórias!
Beijão
Olá!
Faz muito tempo que tenho tentado terminar a série, faz disso uma resolução de ano novo que sepá funciona! haha :))
Beijos!