Lis no Peito – OGS#72

por | abr 2, 2014 | Resenhas, Sem categoria

lis no peitoUm livro que pede, um livro que conta, em Lis no Peito ainda fiquei pensando se a flor-de-lis no meu peito já floresceu para dar o perdão…

Sinopse: Este livro fala de amor entre jovens, da felicidade de adiar um primeiro beijo tendo a certeza de que ele vai acontecer, de delicadezas e violências que são tão presentes no mundo de quem quer se descobrir.
Há um crime, imperdoável talvez, e o possível criminoso pede para um escritor amigo escrever a sua história porque ele mesmo não consegue entender se é culpado ou não. Precisa de outros olhos para ser condenado ou absolvido, sobretudo para continuar a viver.
É aí que o leitor entra e, mesmo em silêncio, se vê responsável e seduzido para dar seu veredicto final.
Este livro quer trazer o lietor para dentro das suas páginas e provisoriamente com ele dar um fim à sua história num “encontro bom” entre a mão que escreve e os olhos de quem lê.

Antes, uma nota:

Dia 29/03

São exatamente 2h18 da manhã. Faz 1 hora que peguei o Lis no Peito pra ler e tentei o fazer como o autor pediu. Ler distraidamente, apenas sentindo, apenas passando pela vida do Marco César.
E fazer como Clarice pediu, esquecer.
Por isso não vou escrever nada aqui, não agora, vou deixar o subconsciente absorver as palavras sem que eu perceba e vou terminar essa resenha quando ela se sentir pronta. Quando a lis no peito terminar de florescer de forma espontânea.
Desde o dia 29 (na verdade 30, já que eram de fato, 2 e pouco da manhã, mas detalhes…) reli o livro para colher os trechos e repensar o caso de Marco César.
Nunca fui de me deixar levar por romances, julgamentos parciais, e deixar levar pela sensibilidade, mas deixei que a lis no peito pensasse nisso mais calmamente e escolhi justamente esse livro para ler.
Nele, vemos Marco César, amigo do escritor (que eu sei não ser o foco sua real existência ou não, mas continuo numa dúvida cruel e eterna, haha) descobrindo-se. Aprendendo que a gente precisa entrar na vida pra viver.

“Se eu tivesse que escolher uma frase para definir Marco César antes de ele conhecer Clarice, seria essa: ‘o que vai acontecer agora agora agora?’ Era um rapaz feito de tensão e expectativa, sempre esperando que a vida fosse chegar, mas o que chegava não era a vida imaginada e nem ele sabia que era preciso entrar na vida pra ela acontecer.”
— Lis no Peito, Jorge Miguel Marinho, pág 84

Confesso também, já que estamos durante um julgamento, que demorei muito tempo para perceber tal fato. Mas tento até hoje tirar o atraso. Mas, o réu nesse caso é Marco César. Eu acho. De qualquer modo, ele conhece Clarice, a xará da outra Clarice, a Lispector, que serve de guia para todos os capítulos desse testemunho do advogado de defesa autor. Nunca li muito a Clarice escritora, então não posso dizer muito sobre, mas confesso que se tudo for o que aparece no livro, me identifico.

“Um dia chegou a dizer para ele (…) que Clarice Lispector não tinha mistérios, que mistério era não levar um ‘bruta susto’ com as coisas mais simples da vida, como olhar no espelho e desconhecer o próprio rosto, perguntar para si mesmo o que tem dentro do nome da gente, ou mascar chiclete com os olhos fechados, imaginando o que sente um cego mascando a eternidade de uma bala sem gosto, como é esse tipo de confeito neutro e elástico.”
— Lis no Peito, Jorge Miguel Marinho, págs 106-107

Marco César quer esse perdão, depois de conhecer Clarice, depois de entrar na vida, depois de cometer o tal crime, depois de se indagar tanto que ele mesmo virou uma pergunta. Mas não sei se ele precisa de perdão. Não sei se devo perdoá-lo. Não sei se eu devo ser a promotora nesse caso. Não sei se ele ainda precisa desses outros olhos para se encontrar absolvido ou condenado.

Não sei se o perdão não viria somente dessa lis no peito.

Jorge Miguel Marinho escreve de uma forma que não consigo descrever como menos do que incrível.

“Escrever para alguém
é quase sempre essa necessidade tão humana
de aproximar a mão que escreve
dos olhos de quem lê.”

Jorge Miguel Marinho.

Ele vai tecendo as palavras de forma que a vontade dele de o leitor apenas seguir consegue se concluir, mesmo eu, que fujo de livros que pedem perdão, não resisti ao deixar florescer essa lis no peito, essa reflexão, esse recomeço. O livro tem uma poesia na prosa, uma diagramação diferenciada, que só ajudam no julgamento. ( nesse momento penso se a intenção do autor não era utilizar esses meios para uma maior chance dessa absolvição, hein…)

Mesmo assim, com perguntas em aberto, tentando definir que caminho tomaram Marco César, Clarice, Jarbas, as respectivas flores-de-lis, eu vou deixar meu julgamento como… Inconclusivo. Se não me engano, nos tribunais da Escócia esse resultado é possível, então vou usar disso como encerramento.

 

Como auxílio nesse julgamento, mais alguns trechos no Tumblr.

Lis no peito – Um livro que pede perdão
Autores: Jorge Miguel Marinho
Editora: 
Biruta
Páginas: 180

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[Esse livro foi o primeiro da parceria com a Editora Biruta e Gaivotae clicando no nome você confere mais novidades delas no blog!]

 

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