E houve o tal veto da regulamentação da profissão do designer. Nesse post vomito aqui uns pontos de vista do que vejo nessa situação.
Os leitores já me viram mencionar antes que sou uma designer. Formada e atuante como pesquisadora, mas não regulamentada como profissional. Hoje foi vetado o projeto que tratava sobre a regulamentação do designer, e uma gama de pontos de vista de gente extremamente emputecida ou feliz estão em todos os cantos desse local chamado internet. (inclusive gente xingando a Dilma como se ela fosse nossa governante totalitária nesse governo que não sabia ser absolutista, né. Inclusive ao invés de xingar a competência dela xingam o fato dela ser mulher, mas esse não é o foco do assunto do post hoje.)
Pra vomitar aqui alguns pontos de vista:
O projeto era limitado. Falar que aprovar qualquer coisa é melhor que nada é se satisfazer com uma profissão medíocre em termos de conceito e atuação. Tem que se discutir muito mais os limites e fronteiras que o profissional designer pode acessar. Em tempos onde um designer é chamado pra lidar com estratégia, gestão de cidades inteiras (se quiserem um extra leiam: Um Prometeu cauteloso? Alguns passos rumo a uma filosofia do design
(com especial atenção a Peter Slotedijk) do Bruno Latour, só chegar aqui) como que se pode aceitar uma fronteira tão fechada num mercado e articulações políticas pobres?
O designer não atua somente nessas questões no momento contemporâneo que vivemos, então porque aceitar fronteiras que limitam tanto?
Num país burocrático como o nosso é fato de que muitas possibilidades nos são vetadas por falta de regulamentação, aquela tal aprovação de que você é capaz de fazer tal coisa.
É preciso muito mais discussão sobre o Design em si antes de regulamentar, coisa que realmente acho necessária num país em que se precisa dar carteirada pra atuar. Regulamentar nos daria opções e liberdades de atuação que hoje não temos porque não somos reconhecidamente “capazes”. Então, sim, concordo que precisamos regulamentar o design. Mas antes se questionar muito mais o que é design, pra só então partir pra isso. E não aceitar nada menos.
Essa motivação do veto, como se a profissão não valesse nada, é o mais agravante. Demonstra que um nível muito mais profundo de reconhecimento e valorização da profissão é premente. A falta de regulamentação design “não causa danos à sociedade”, então não é necessária. Como? Não causa danos lidar com gestão de uma cidade inteira? Com uma construção de uma interface seja ela virtual ou material? Se isso é verdade pra eles que deram o veto, então estamos muito mais longe de regulamentar o design do que pensamos.
Acho legal ver amigos que são designers e tem capacidade melhor de argumentação do que eu falando sobre o assunto e me fazendo pensar. Tem gente que fala que tá certo não regulamentar porque assim só vão poder ser designers aqueles que tem faculdade, e que isso é errado. Tem profissionais muito bons no mercado hoje que são ótimos designers e não tem formação. Não sei o que pensar quando falam disso e não sei o que pensar da regulamentação.
A gente tem que discutir tanto, mas tanto, Chell…
tantos contextos onde o design aparece, tantos onde ele é falsamente utilizado (quem sabe se realmente falsamente, né…). a gente nem sabe o que é design, quanto mais o que não é. E quer regulamentar isso. É como brincar de quebra-cabeça sem ter as peças todas na mesa, ou uma foto de referencia da montagem.
Falta muito chão ainda, mas estamos aí pra percorrer ele descalço 🙂