E tchanaaan, nesse 4º ano de Natal seguido aqui no Castelo, tem resenha de Primavera de Oskar Luts e os votos do Jovem Link pra esse Natal 🙂
Sinopse: Numa escola paroquial da Estônia, estuda Arno Tali, um garoto ingênuo que nutre um carinho especial pela esperta Teele Raja. Na escola, eles e seus amigos são perseguidos por um sacristão rabugento, contra quem aprontam inúmeras travessuras.
Primavera é centrado na rotina escolar dessas crianças, com os muitos conflitos e descobertas que se dão enquanto todos aguardam a chegada da estação mais esperada do ano.
Além desta divertida história, este livro traz vários aspectos da cultura estoniana e das influências herdadas da cultura russa, como lendas populares, músicas, a língua e o modo de vida no campo no início do século XX. (sinopse do Skoob)
E o último livro da parceria com a Editora Biruta foi Primavera! Um livro que combinou tanto com o Natal que não houve uma data melhor pra fazer essa resenha do que hoje 🙂
Antes de partir para a resenha, Jovem Link e eu desejamos um ótimo dia de Natal pros leitores lindões e um bom feriado para quem não comemora o Natal! E pra ilustrar essa vibe que deveria estar presente no Natal, tem um trecho magnífico de Primavera:
“- O nosso Salvador nasceu hoje – o professor começou a dizer em uma voz alta e clara, e Arno teve de repente a sensação de que tinha nascido hoje, naquele mesmo instante, como o professor tinha dito. Uma sensação estranha de alegria tomou conta de sua alma. Parecia a ele que alguma coisa grande e inesperada tinha acontecido a todos eles. A única coisa que ele desejava nesse momento era que todos estivessem tão felizes quanto ele.
Quando se ouviram as músicas, e o órgão tocou com seu som tonitruante, tudo se misturou em seu olhar: as pessoas, os castiçais, as velas e a árvore de Natal diante do altar; tudo se uniu num grande conjunto de louvor e honra a Deus. Não havia lá na multidão uma única pessoa má, todos eram bons. Ele próprio desaparecia no infinito e cantava junto com o coro dos anjos nos campos de Belém, enquanto ao seu redor surgia uma luz maravilhosa.
Ele era carregado para cima por uma mão invisível. Bem acima de sua cabeça ele via, sentado à direita do Pai, aquele cujo nascimento estava sendo celebrado. E a música continuava. Parecia que cantavam em toda parte, como se a música percorresse o mundo todo e espalhasse a alegria do Natal. Quando o professor disse “oremos”, ele se ajoelhou e rezou com fervor. Ao se levantar ele viu que da boca das pessoas a expiração saía em nuvens brancas, e de repente teve a impressão de que era essa a oração que cada um enviava a Deus. Dessa forma as preces de todos os fiéis se uniam numa grande prece que se elevava diante do trono de Deus, como está nas escrituras…”
Primavera, Oskar Luts, p. 156-157
É um trecho tão bonito de devoção do Arno que não resisti de colocá-lo inteiro aqui. É um clima de Natal que não tive até hoje, mas acho que deveria ser assim 🙂 Espero que vocês possam ter essa sensação onde quer que estejam também ^^
Voltando à resenha, foi uma indicação da Ana da Biruta esse livro, tinha visto a capa, tinha visto a sinopse, mas quando comecei a ler, gente, que linguagem amorzinho.
“Quem quer ser consolado precisa confiar a outro a verdadeira razão de sua tristeza. Senão, não adianta.”
Primavera, Oskar Luts, p. 44
É um livro de 1912, numa época em que a Estônia ainda estava sofrendo por conta da dominação de outros países (ela só se torna independente em 1917, depois de eras de domínio estrangeiro), esse livro é um resgate de uma cultura da época. E também demonstra uma imposição de uma cultura externa, os alunos da escola de Arno, por exemplo, são obrigados a aprender as lições em russo, não em estoniano.
Obviamente também existe uma imposição religiosa (o curioso é que, apesar do livro ter bastante desse aspecto de devoção de Arno e alguns outros personagens, a Estônia é atualmente o povo menos religioso do mundo) e de moral e costumes. Mas o livro tem uma intenção de resgate e mantenimento cultural muito forte. Um sentimento de manter o que seria nacional.
“Pequeno como a grama… Sim, sim, pequeno como a grama, mas justamente nas costas curvadas de tanto trabalhar dessas pessoas pequenas como a grama é que as futuras gerações são construídas. Os grandes carvalhos já tiveram também a altura da grama…”
Primavera, Oskar Luts, p. 99
É um livro longo e muito sensível, Oskar Luts também mistura suas próprias experiências de vida no meio do cotidiano de Arno, como se fosse um autobiografia no formato de ficção. Temos alguns costumes, a questão da alimentação, da personalidade de crianças, como a Teele (que consegue ser tão chatinha como uma garota paparicada pode ser hahaha), o Toots, aquele tipo de garoto que prega peças em todo mundo, passa a perna em todos, mas acaba que todo mundo gosta um pouco dele. HAHA Aliás, Toots é um dos personagens mais interessantes do livro. Como era travada a relação familiar, o papel que cada membro desempenhava, o que era esperado de cada um. Outro que achei bem interessante é o Lible, o sineiro. Ele é um alcoólatra. E admite isso. E algumas das conversas mais interessantes são travadas entre ele e Arno.
Arno é aquele protagonista sensível, um pouco emo, convenhamos, hahaha, que pensa demais. Ele pensa sobre tudo. Ele fica remoendo tudo que acontece na sua vida. Essas são as partes onde conseguimos ver como eles deviam pensar, faz pouco mais de 100 anos, mas tanta coisa é diferente. Foi uma aula de história e fiquei pesquisando uma quantidade enorme de referências que o livro traz.
O livro é uma abertura linda pra um mundo nevado, que espera ansiosamente por uma primavera e o calor do sol. Super diferente da nossa cultura e do que a gente pensa que era a cultura deles. Dá vontade de acompanhar as aventuras e desventuras, porque não, de todos da escola paroquial. Saber mais de suas famílias, seus costumes, suas roupas e se o sacristão um dia vai virar uma pessoa legal. Porque olha, ô homenzinho…
Primavera
Autores: Oskar Luts
Editora: Editora Biruta
Páginas: 432
( e um coração também hehe )
Um ótimo dia de Natal procês!!!
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