O Homem que matou Getúlio Vargas – Rapidinhas #11

por | set 22, 2016 | Humor, Rapidinhas, Resenhas, Sem categoria

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“Cocteau dá um berro e sobe na cadeira: — Uma ratazana! – Instala-se, na hora, um pandemônio no restaurante. As mulheres gritam, os homens reclamam, os garçons correm em desatino. Dimitri aproveita a confusão para recolher a pequena prenda embalsamada, que fora parar no copo vazio de Modigliani. Ele pede desculpas, muito sem jeito, e sai às pressas, arrastando a loura Anette pela mão. Apollinaire e Satie socorrem o poeta quase em choque, enquanto Picasso se esparrama no chão às gargalhadas.”

O herdeiro de um sonho anarquista percorre o mundo, ávido para pôr em prática tudo o que aprendeu na melhor escola de assassinato da Bósnia, antes de desembarcar no Brasil decidido a dar cabo do seu tio, o presidente Getúlio Vargas.

Ótimo, como todos os romances do Jô Soares que eu já li. Boa parte da trama se passa na Europa e na América antes de se focar em nosso país, e isso rende bastante. O romance é ganancioso: Foram lidos mais de oitenta livros e a bibliografia da obra tem três páginas. Deu resultado: Yo soy Ares conseguiu criar uma história repleta de personagens históricos bem conhecidos por nós e imprimir em cada um deles a sua marca indelével e personalidade única. Assim, o anarquista e assassino Dimitri Borja Korozec, interage genialmente com Mata Hari e Picasso, é salvo da morte por Marie Curie, trabalha para Al Capone… É um prato cheio pra qualquer leitor e cada aparição e easter egg é mais divertido do que o anterior. Eu preciso confessar que não pude largar a sensação de quemoncler winkels estava lendo uma paródia perfeita, talvez menos emocional, de Forrest Gump.

Muitos condenam o vocabulário desnecessariamente rebuscado do autor, mas eu confesso que vi um ponto positivo no excesso de palavras rebuscadas. Elas casam muito bem com o  período histórico. Além disso, Jô Soares consegue imprimir nelas o seu tom de voz de forma tão forte que muitas vezes peguei-me ouvindo-o enquanto lia, como se ele estivesse lendo na minha cabeça. É necessária uma habilidade pra imprimir isso num texto, e o Josso felizmente tem isso.

Como de costume dos seus romances, este também casa a comédia leve e inteligente com a mais pura pornochanchada (o clássico e humorístico ecchi brasileiro) dos quais se originam as (péssimas) novelas das sete da Rede Globo. O casamento do sensual com o bem humorado se dá de forma muito eficaz e não-machista. A leitura flui bem e termina mais rápido do que o esperado.

O epílogo não é tão bom. Eu diria que o principal da história foi fechado, mas poderia ter fechado outras pontas também. Bom, isso é uma decisão do autor e em nada estraga a boa leitura. Para os que leram O Xangô de Baker Street, esse é um livro à altura e uma boa pedida aos que querem mais um pouco de Jô, sendo superior aos livros As Esganadas e Assassinatos na Academia Brasileira de Letras (Este último o menos divertido, mas não menos digno de atenção). Esperemos que não tarde para que haja outro romance em breve, porque as bibliotecas precisam de um pouco mais desse tipo de história que exalta tão bem e de forma tão humorística a cultura brasileira. Destaque para a ótima coleção da Companhia das Letras (Os livros ficam bem bonitinhos na estante, apesar de levemente diferentes).

Acho que 8 é a nota ideal: Não é o livro que vai mudar sua vida, ou um dos que você deve ler antes de morrer, e nem vai ganhar aquele espaço especial no seu coração, mas afora isso, acerta em todos os pontos como um livro simplesmente ótimo.

8

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O Homem que Matou Getúlio Vargas – Jô Soares
342 páginas – Companhia das Letras

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