Robert Neville está sozinho na Terra, e você fica tão sozinho quanto ele em Eu sou a lenda, um livro tão fantástico que tive que deixar a tristeza passar pra vir resenhar…
Sinopse: Uma impiedosa praga assola o mundo, transformando cada homem, mulher e criança do planeta em algo digno dos pesadelos mais sombrios. Nesse cenário pós-apocalíptico, tomado por criaturas da noite sedentas de sangue, Robert Neville pode ser o último homem na Terra. Ele passa seus dias em busca de comida e suprimentos, lutando para manter-se vivo (e são). Mas os infectados espreitam pelas sombras, observando até o menor de seus movimentos, à espera de qualquer passo em falso… (Sinopse do Skoob)
E estava pra ler esse livro faz um tempinho, ele me olhava com seu projeto gráfico maravilhoso, me tentando a lê-lo. HAHA Eu o li antes d’O homem que caiu na Terra, outro que também acabou de dando uma bad reflexiva, mas de uma forma diferente.
Antes de começar, minha nossa, como odiei o filme Eu sou a lenda (2007) depois de ler o livro. HAHAHAHHA Toda a carga psicológica tensa, a maneira como os infectados agem, os conflitos, as soluções, os plot twists… tudo jogado fora pra virar um filme de monstros com uns tropes meia boca *grita silenciosamente em desespero*. Os outros filmes de 1964 e 1971 eu não assisti, então não posso opinar haha 🙂 Mas o de 64 tem o Vincent Price e é o mais próximo do plot original, o de 71 sendo levemente inspirado na história.
“Talvez ele voltasse. Talvez a resposta estivesse enterrada no passado, em alguma fenda obscura da memória. Então volta, disse pra sua mente, volta.
Voltar; isso lhe arrancava o coração.”
Eu sou a lenda, Richard Matheson, p. 97
O maior inimigo de Neville é ele mesmo. Já se vê isso desde a primeira página. A tristeza, a solidão, os questionamentos, a depressão de estar tão completamente vazio e sozinho que a sinceridade com você mesmo nem dói mais. Aliás, que escrita maravilhosa, Richard Matheson! Você entra tão fundo na mente do Neville que ele não tem pudores nem restrições ao mostrar a mente dele. Também, não teria nem motivos para fazer isso.
“O som animalesco de sua risada no ar silencioso da manhã o surpreendeu. Meu Deus do céu, pensou, faz tanto tempo desde que eu ri pela última vez, até já me esqueci de quando foi. A risada soava como a tosse de um cão de caça doente. Bom, no fim das contas, é isso que eu sou, não é? Um cachorro muito doente.”
Eu sou a lenda, Richard Matheson, p. 122
Dá pra entender como tanta gente se inspirou e usa os artifícios dele até hoje para escrever ficção científica e terror. O prefácio do King nessa edição da Aleph é ó <3
Em todo o momento eu fiquei me perguntando como minha mente tentaria se manter sã se eu tivesse visto todo mundo que gosto morrer, se parasse de receber qualquer tipo de notícia, se tivesse que me defender e sobreviver todo santo dia… para quê? Meramente pra estar vivo? Que propósitos, que objetivos restariam?
“A força vital era algo maior do que palavras? Era uma potência tangível, controladora de mentes? Estaria a natureza, de algum modo, mantendo dentro dele a centelha viva, contra a própria transgressão?”
Eu sou a lenda, Richard Matheson, p. 187
O livro segue aquele ritmo direto, simples, um dia após o outro, da mesma forma que o protagonista tenta viver. As recaídas dele, os pedaços de passado que ele se atreve a acessar, as pequenas descobertas que fazem ele recuperar a vontade de viver… tinha momentos no livro em que eu me perguntava “Mas onde o autor quer chegar com isso? Pra quê ele ainda está escrevendo sobre o Neville? Que mais se tem para falar sobre solidão e depressão?” Mas sempre tinha mais alguma coisa… sempre tinha um novo dia.
Acho que é por isso que esse livro marcou tanto, você sente o terror emanando tanto do que está lá fora, quanto do que está dentro do Neville. É tudo tão humano, tão real, que o livro quase se torna um drama. haha (rindo porém chorando por dentro)
O livro te dá uma amargura tremenda, e o final… aiai. Que final. Quando você se toca de pra onde o livro vai, a tragédia já está posta. E você só assiste o desfecho.
Para não dizer mais nada, vou só deixar esse trecho maravilhoso aqui e sair:
“- Talvez você tenha visto alegria nos rostos deles – continuou ela. – Não é de se surpreender. Eles são jovens. E eles são assassinos… assassinos designados, assassinos “legalizados”. Eles são respeitados pela matança, admirados por isso. O que você poderia esperar deles? São apenas homens, não são infalíveis. E homens podem aprender a gostar de matar. É uma história velha, Neville. Você sabe disso.‘”
Eu sou a lenda, Richard Matheson, p. 330.
Eu sou a lenda
Autores: Richard Matheson
Editora: Aleph
Páginas: 384
(e um coração enorme.)
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