A Caminho de Casa – OGS #144

por | dez 21, 2016 | Resenhas, Sem categoria

radhanath swami

A Caminho de Casa tem de tudo: aventura, drama, ação, intervenção divina e você imaginando quanta treta um ser humano pode aguentar…

E antes de tudo, dia 17 agora foi o lançamento do Castelo de Cartas – Rei! Obrigada a quem foi! Aqui nesse álbum do Facebook tem as fotos do que rolou! E os livros todos já estão à venda no site da Coletivo Editorial! AQUI Ó 🙂

Sinopse: Nesta biografia extraordinária, Radhanath Swami tece uma colorida tapeçaria de aventura, misticismo e amor. Os leitores acompanham o autor, de nome civil Richard Slavin, dos subúrbios de Chicago para as cavernas do Himalaia à medida que o jovem buscador se transforma em um renomado guia espiritual. A Caminho de Casa é um relato íntimo dos passos até o autoconhecimento e também um vislumbre penetrante para o íntimo das tradições místicas e para o cerne dos desafios que todas as almas têm que enfrentar na estrada para a harmonia interior e para a união com o Divino.
Por meio de encontros de quase morte, aprendizados com yogis experientes e anos de viagem como peregrino, Radhanath Swami, por fim, chega ao santuário interno da cultura mística da Índia e encontra o amor pelo qual buscava. Trata-se de uma história contada com grande doçura, imergindo o leitor em uma jornada que de imediato o envolve com humor e emoção. (Sinopse do Skoob)

E eu tive a oportunidade de ajudar na produção desse livro aqui na editora em que trabalho (mas, não é um post de divulgação, hahaha, bom frisar, é um post de leitora mesmo), e entre demandas e tarefas, consegui ler o A Caminho de Casa inteiro. E me apaixonei.

É estranho pensar em quanta coisa pode acontecer na vida de alguém em apenas um ano. E bizarro pensar em quanta coisa estranha pode acontecer com uma pessoa. Como acontece nessa autobiografia. Radhanath Swami decide aos 19 anos (tracei um paralelo comigo aos 24 bem triste, mas cada um tem seu tempo, né, haha, não acho que conseguiria ter a determinação e dedicação que ele teve passando por tanto perrengue)  que vai em busca de Deus. Ele decide seguir uma jornada espiritual pra se encontrar, pra encontrar seu lar. Eu não sei se no alto de meus 24 anos lembro de tudo que aconteceu na minha vida, mas tem algumas coisas que marcaram a vida dele e que impactam no que vemos hoje sobre intolerância:

Danny sussurrou: “Isto é um segredo, mas meus pais odeiam você”. Uma onda de calor correu do meu estômago para a minha garganta. “Por quê? O que foi que eu fiz?”. “Porque você é judeu. Eles dizem que vocês mataram Jesus”. “O quê!?”. Eu fiquei paralisado. O que eu ouvia não fazia o menor sentido. “Meu pai diz que até mesmo Deus odeia vocês”. Os passos pesados dos seus pais rangeram através do teto sobre nós. Eu não sabia se deveria correr, me esconder ou chorar. “E você, Danny, você me odeia?”. “Não, você é o meu melhor amigo. Por você ser judeu, eu posso vir a odiá-lo quando crescer. Mas espero que não”. Minha mente ficou vazia.
A Caminho de Casa, p. 4

Isso nos anos 60… e ainda hoje temos essas questões tão intrínsecas na sociedade, que uma criança replica aquilo com uma honestidade que até dói. Tudo que ele viveu foi no início dos anos 70, essa jornada que ele fez até a Índia (ele foi pegando carona da Grécia até a Índia), no meio de muito problema, de quase ter morrido por assaltos, doenças, animais, ter escapado por meses da guerra entre Índia e Paquistão…

E nesse meio tempo acabou conhecendo tanta gente. Ele acabou conhecendo tanta gente importante (famosa ou não) nesse um ano que parece até mentira. As lições que ele teve sabedoria de absorver, cada perrengue passado que ele tentava compreender (por exemplo, em um momento que ele reza pra que Deus mostre o caminho, se é pra ficar no lugar ou não, ele cai de cama com febre tifóide, e entende que aquilo era o sinal para não sair do lugar mesmo).

Milhares proclamavam “sexo, drogas e rock and roll” como a forma progressiva de viver. Liberdade era o valor mais elevado, mas estavam eles livres de fato? Pensei em todas as pessoas maravilhosas que encontrei que faziam parte da contracultura, mas também naqueles que pareciam meramente selvagens e ingratos. Pensei em como a gratidão foi o valor mais importante que minha mãe e meu pai ensinaram a mim e a meus irmãos. Eu queria realmente ser parte de tudo isso? Eu certamente não me encaixava na geração dos meus pais. Em que eu me encaixaria? Por favor, Deus, mostre para mim. Com esses pensamentos, ofereci uma oração pelo Jimi.
A Caminho de Casa, p. 23

As experiências e descrições dele são fantásticas. O original é ótimo e a tradução ficou impecável. A maneira como tudo é descrito, o ritmo do livro, é tudo muito bem articulado. O que acho estranho de ler biografias em geral, é a sensação que fica no final de que você conhece a pessoa, virou amigo dela, compartilhou das desventuras, partes boas, insights, tudo… só que na verdade só leu, né. É uma sensação dúbia de ter intimidade sem nunca ter conhecido a pessoa. Dá até um vazio no final quando você se toca disso. 

Em questão de religião, como eu tenho minhas ideias de Deus e espiritualidade, foi um livro bem tocante para mim. Em certos trechos, várias indagações e dúvidas que tive (e tenho) foram questionadas pelo Swami também… o que aumentou essa sensação de cumplicidade ao ler.

“Um cão reconhecerá seu mestre independente do que ele estiver vestindo. O mestre pode vestir mantos, terno e gravata ou ficar nu, mas o cão sempre reconhecerá o seu mestre. Se não conseguimos reconhecer Deus, nosso amado mestre, quando Ele está com a roupa diferente de outra religião, então somos menores do que um cão.”
A Caminho de Casa, p . 201

Em certos momentos, os nomes indianos se tornam uma confusão louca, porque eu não conseguia lembrar quem era quem, já que os nomes podem ser bem complexos, mas você vai se acostumando enquanto lê. Até porque o autor abre tanto o coração dele falando das experiências de vida que não tem nem como você não se apegar às pessoas mencionadas, ou ficar com vontade de ter conhecido cada uma delas. É um choque cultural ver como as pessoas vivem em outro país, ou até que ponto elas podem levar algumas questões da cultura e crença. O livro é como um agradecimento e testemunho da jornada dele, daquele um ano que mudou tudo que ele entendia por certo, errado, comum e incomum a partir dali. E que reflete na vida que ele leva hoje.

Foi uma leitura simplesmente deliciosa, e que me deixou órfã e querendo saber o que aconteceu depois, e depois, e depois…

A Caminho de Casa
Autores: Radhanath Swami
Editora: Coletivo Editorial
Páginas: 400
cinco estrelas (e um coração enorme.)

Link do Skoob

Ps.: foi bem difícil ler certos trechos durante o horário de trabalho, porque tinha que dar aquela disfarçada nas partes emocionantes… mas faz parte.

2 Comentários

  1. Helen Coppi

    Menina, que post incrível. Eu viajei (sou dessas que visualiza cenas que lê).
    “Danny sussurrou: “Isto é um segredo, mas meus pais odeiam você”. Uma onda de calor correu do meu estômago para a minha garganta. “Por quê? O que foi que eu fiz?”. “Porque você é judeu. Eles dizem que vocês mataram Jesus”. “O quê!?”. Eu fiquei paralisado. O que eu ouvia não fazia o menor sentido. “Meu pai diz que até mesmo Deus odeia vocês”. Os passos pesados dos seus pais rangeram através do teto sobre nós. Eu não sabia se deveria correr, me esconder ou chorar. “E você, Danny, você me odeia?”. “Não, você é o meu melhor amigo. Por você ser judeu, eu posso vir a odiá-lo quando crescer. Mas espero que não”. Minha mente ficou vazia.
    A Caminho de Casa, p. 4”
    Muito forte.

    Obrigada pela resenha.

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    • Camila

      Esse trecho é bem pesado mesmo, Helen! :/
      E nossa, é uma jornada maravilhosa de acompanhar! <3

      Responder

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