“Aos quatro anos, eu achava que minha mãe inventava os sonhos que eu tinha de noite. Se de manhã ela me perguntava, como às vezes fazia, o que eu havia sonhado, era só pra saber se eu ia dizer a verdade”
O claustrofóbico desenvolvimento de quatro irmãos de diferentes sexos e idades, numa casa dominada pelo tédio e pelo abandono familiar.
Absolutamente nauseante e envolvente, a história é contada por um dos irmãos e seu ponto de vista adolescente é sincero e cru. A narrativa flui MUITO rápido e é impossível largar a leitura antes de chegar-se ao fim, o que não deve tomar mais que uma tarde. Cada parágrafo é perturbador e apresenta algo novo, de forma que nunca fica parada. O foreshadowing e a importância simbólica dos momentos mais simples e fugazes são impressionantes e me lembram em muito O Senhor das Moscas. A falsa impressão de que “nada vai acontecer” é verdadeiramente esmagadora, tanto pro leitor quanto para os personagens.
Vi resenhas que reclamavam da vulgaridade da obra, mas não compactuo com o pensamento: Extremamente psicológica, os quatro irmãos passam a portarem-se como bichos uma vez esmagados pelo peso do nauseabundo e da responsabilidade de serem humanos. Talvez os corações fracos de alguns leitores os impeçam de enxergar além do abismo da humanidade, pois se prendem demais à sua superfície, horrorizados com termos como masturbação e incesto. Para os que admitem essa vulgaridade inerentemente humana, livres de preconceitos e prontos para admitir a existência das sombras de seus inconscientes, os que optam por mergulhar nesse poço escuro de páginas, há uma narrativa perturbadora de horror com um desfecho de tirar o fôlego.
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O Jardim de Cimento – Ian McEwan
129 páginas – Companhia de Bolso
Acabei de terminar de ler o livro e olha… não to sabendo processar tudo ainda.
A escrita é fantástica. A crueza é fantástica. E as personagens não se importam em esconder nada de você, porque elas são como elas são.
Que livro, Rafa. Que livro.