O Médico e o Monstro – OGS #37

por | dez 13, 2012 | Resenhas, Sem categoria

Em O Médico e o Monstro, o leitor acompanha perplexo os dramas do dr. Jekyll, diante da faceta assustadora de sua própria personalidade; o temível sr. Hyde. A história aborda a dialética dos valores morais em sua forma mais assombrosa e vai além do bem e do mal da alma humana.

Sinopse da contracapa.

Em O Médico e o Monstro não fiquei tão perplexa quanto achei que ficaria.

E agora deve estar passando pela mente de vocês, “ué, não é a mesma capa do OGS #34?” Sim, é a mesma capa do OGS #34 sobre o Frankenstein, como estão no mesmo livro, nada mais justo hehe. Então, vamos à resenha dessa humilde pessoa em relação a O Médico e o Monstro.

Acho que o fato de ser um clássico já muito difundido tira toda a emoção e suspense de saber o que Dr. Jekyll tem a ver com o abominável Sr. Hyde. Então lá se vai a perplexidade. Lá se vai o mistério, você só aguarda até o ponto em que te contam o que você já sabe. Mesmo assim, li avidamente cada uma das poucas páginas do conto (que é bem curtinho, descobri que Drácula, a terceira estória do livro, é enorme hehe).

Ele tem aquele clima de caso de suspense clássico meio Sherlock ou Christie, embora a narrativa desses me agrade mais do que a de Stevenson. Então, diria que achei muito mais interessante  a mensagem por trás da história do que a narrativa da mesma. A questão da dualidade humana realmente vai muito além da questão do Jekyll bom e do Hyde mal. Achei imensamente interessante um trecho presente na introdução do livro, feita por Vicente Cechelero:

“O outro lado humano retorna para ativar tendências libidinais latentes escondidas pelo ego social.(…) O próprio texto chama a atenção para o “mal” como uma categoria moral relativa, como uma noção imposta sobre a desordem natural. Jekyll, operando seu ‘experimento enquanto está sob o domínio’, é alertado para o mundo do outro lado do espelho porque ele lhe oferece um infinito número de ‘eus’. Ele vê a definição monista do caráter como limitada: o homem não é apenas dipsíquico, mas polipsíquico, infinitamente ‘outro’.”

Introdução, página 170

Essa análise que não fica numa divisão talvez clichê do bem e do mal é imensamente genial. Jekyll tenta ‘tirar’ essa metade ‘má’ que era Hyde de dentro dele, ele se divide ao criar seu experimento e se debilita quando o que sai dele começa a ganhar mais força, a tentá-lo a deixar que viva inteiro. Mas como é possível tirar um pedaço do que te faz o que é? Seria imensamente simples tirar tudo de ruim que há em alguma pessoa e deixá-la conviver na sociedade, ela seria um robô, praticamente. Essa presença supostamente ‘má’ no ser humano é o que o faz ser o que é, ele tem potencial para seguir qualquer um dos caminhos. Não separado, mas convivendo com essa natureza mais animalesca, se contrapondo com a parte mais lógica e cheia de morais estabelecidas em uma sociedade.

Uma coisa que me surpreendeu foi a aparência de Hyde. Isso sim me deixou perplexa. Se alguém já viu A Liga Extraordinária (filme bem ruinzinho na minha opinião haha), vai se lembrar de um Mr. Hyde assim:

Um cara enorme. Com muita cara de mau e hiper mega deformado.
Ou então quem assistiu O Segredo de Mary Reilly (com a Julia Roberts, esse MUITO bom, vale muito a pena assistir.) imaginaria o Mr. Hyde assim:

Um cara menos exagerado, mas ainda assim com leves deformações e maior que o Jekyll.

E era assim que minha imaginação figurava o Mr. Hyde, um cara gigante, com alguma coisa de não-natural nele. E que surpresa eu tive quando li que Mr. Hyde era um homenzinho quase simiesco, meio monstruoso, imensamente mais baixo que Jekyll, com mãos e pernas maiores, e com algo de estranho que ninguém conseguia definir o que era, mas dava calafrios na espinha toda.

Seria mais assim:

O mais legal foi a explicação para ele ser deformado e um tanto atrofiado, como Jekyll não desenvolveu esse seu lado mais animalesco, quando Hyde pode sair, apesar de muito mais novo, ágil e leve, era um tanto estranho, como se possuísse algo de não natural. Mas. Ele era parte de Jekyll.

O lado mau da minha natureza, ao qual acabara de dar corpo, era menos robusto e menos desenvolvido do que o lado bom, que me tinha desintegrado.(…) além disso, esse lado mau – que suponho seja a parte mortal do homem – deixava-me no corpo uma marca de deformidade e degenerescência. E contudo, quando olhava no espelho para essa feia imagem, não sentia nenhuma repugnância, antes um alvoroçado prazer. Pois se era eu também! Portanto era natural e humano.

Página 212

 

É um livro riquíssimo, mais em conteúdo do que em narrativa na minha opinião, mas que dá pra gerar muita discussão. Por isso vale muito a pena ler, mesmo que fiquem milhares de referências, até na Marvel com o Hulk, acabando com o mistério de descobrir quem realmente era o Mr. Hyde.

E vale a pena assistir o filme O Segredo de Mary Reilly! Fica a dica!

 

O Médico e o Monstro(1886; edição da Martin Claret de 2012)
Editora: 
Martin Claret
Autores: Robert Louis Stevenson
Páginas: 54 (novamente, essas não são as páginas totais do livro, mas as que compreendem a estória nessa edição!)

Link no Skoob

 

 

Ps.: E novamente me empolguei no tamanho da resenha… HAHAHA tenham paciência que escrevi cada palavra com carinho hehe

 

 

4 Comentários

  1. Jeferson Rocha

    Mila, tu se superou…”simiesco” foi massa! Quem dera eu falar tão bem assim ou conseguir expor opinião desta maneira. Uma pena eu não me sentir à vontade pra conseguir tal feito. Principalmente na Internet. Você tem coragem, talento, e pelo que notei desde sempre, vontade de por a boca no trombone (esta é tão piegas quanto a palavra piegas heheh), sorte pra ti, em TUDO! 🙂

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    • camilaLV

      HAHA… quando você quer consegue se expressar bem sim…
      Muito obrigada! Pelas palavras piegas também HAHA 🙂

      Beijos!

      Responder
  2. Babi Lorentz

    Eu não sei se leria. Nunca tive vontade de conhecer essa história, mas achei interessante as palavras que você usou para descrever o conto: mas rico em conteúdo do que em narrativa. Sei que isso existe, mas ainda levo em consideração a narrativa dos contos/romances que leio. Acho que me entendes…
    Beijos.

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    • camilaLV

      Então… sempre morri de vontade de ler essa história, mas talvez tenha sido pelos filmes, e pela grande quantidade de referências usadas no cinema, teatro e literatura.
      Me desapontei muito com a narrativa em si. Por ser curto creio que valha a pena pra poder formar a opinião e não ser linchado ao falar que um clássico é meio “fraco” na narrativa, rsrs 🙂

      Beijos

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