Em O Médico e o Monstro, o leitor acompanha perplexo os dramas do dr. Jekyll, diante da faceta assustadora de sua própria personalidade; o temível sr. Hyde. A história aborda a dialética dos valores morais em sua forma mais assombrosa e vai além do bem e do mal da alma humana.
Sinopse da contracapa.
Em O Médico e o Monstro não fiquei tão perplexa quanto achei que ficaria.
E agora deve estar passando pela mente de vocês, “ué, não é a mesma capa do OGS #34?” Sim, é a mesma capa do OGS #34 sobre o Frankenstein, como estão no mesmo livro, nada mais justo hehe. Então, vamos à resenha dessa humilde pessoa em relação a O Médico e o Monstro.
Acho que o fato de ser um clássico já muito difundido tira toda a emoção e suspense de saber o que Dr. Jekyll tem a ver com o abominável Sr. Hyde. Então lá se vai a perplexidade. Lá se vai o mistério, você só aguarda até o ponto em que te contam o que você já sabe. Mesmo assim, li avidamente cada uma das poucas páginas do conto (que é bem curtinho, descobri que Drácula, a terceira estória do livro, é enorme hehe).
Ele tem aquele clima de caso de suspense clássico meio Sherlock ou Christie, embora a narrativa desses me agrade mais do que a de Stevenson. Então, diria que achei muito mais interessante a mensagem por trás da história do que a narrativa da mesma. A questão da dualidade humana realmente vai muito além da questão do Jekyll bom e do Hyde mal. Achei imensamente interessante um trecho presente na introdução do livro, feita por Vicente Cechelero:
“O outro lado humano retorna para ativar tendências libidinais latentes escondidas pelo ego social.(…) O próprio texto chama a atenção para o “mal” como uma categoria moral relativa, como uma noção imposta sobre a desordem natural. Jekyll, operando seu ‘experimento enquanto está sob o domínio’, é alertado para o mundo do outro lado do espelho porque ele lhe oferece um infinito número de ‘eus’. Ele vê a definição monista do caráter como limitada: o homem não é apenas dipsíquico, mas polipsíquico, infinitamente ‘outro’.”
Introdução, página 170
Essa análise que não fica numa divisão talvez clichê do bem e do mal é imensamente genial. Jekyll tenta ‘tirar’ essa metade ‘má’ que era Hyde de dentro dele, ele se divide ao criar seu experimento e se debilita quando o que sai dele começa a ganhar mais força, a tentá-lo a deixar que viva inteiro. Mas como é possível tirar um pedaço do que te faz o que é? Seria imensamente simples tirar tudo de ruim que há em alguma pessoa e deixá-la conviver na sociedade, ela seria um robô, praticamente. Essa presença supostamente ‘má’ no ser humano é o que o faz ser o que é, ele tem potencial para seguir qualquer um dos caminhos. Não separado, mas convivendo com essa natureza mais animalesca, se contrapondo com a parte mais lógica e cheia de morais estabelecidas em uma sociedade.
Uma coisa que me surpreendeu foi a aparência de Hyde. Isso sim me deixou perplexa. Se alguém já viu A Liga Extraordinária (filme bem ruinzinho na minha opinião haha), vai se lembrar de um Mr. Hyde assim:
Um cara enorme. Com muita cara de mau e hiper mega deformado.
Ou então quem assistiu O Segredo de Mary Reilly (com a Julia Roberts, esse MUITO bom, vale muito a pena assistir.) imaginaria o Mr. Hyde assim:
Um cara menos exagerado, mas ainda assim com leves deformações e maior que o Jekyll.
E era assim que minha imaginação figurava o Mr. Hyde, um cara gigante, com alguma coisa de não-natural nele. E que surpresa eu tive quando li que Mr. Hyde era um homenzinho quase simiesco, meio monstruoso, imensamente mais baixo que Jekyll, com mãos e pernas maiores, e com algo de estranho que ninguém conseguia definir o que era, mas dava calafrios na espinha toda.
Seria mais assim:
O mais legal foi a explicação para ele ser deformado e um tanto atrofiado, como Jekyll não desenvolveu esse seu lado mais animalesco, quando Hyde pode sair, apesar de muito mais novo, ágil e leve, era um tanto estranho, como se possuísse algo de não natural. Mas. Ele era parte de Jekyll.
O lado mau da minha natureza, ao qual acabara de dar corpo, era menos robusto e menos desenvolvido do que o lado bom, que me tinha desintegrado.(…) além disso, esse lado mau – que suponho seja a parte mortal do homem – deixava-me no corpo uma marca de deformidade e degenerescência. E contudo, quando olhava no espelho para essa feia imagem, não sentia nenhuma repugnância, antes um alvoroçado prazer. Pois se era eu também! Portanto era natural e humano.
Página 212
É um livro riquíssimo, mais em conteúdo do que em narrativa na minha opinião, mas que dá pra gerar muita discussão. Por isso vale muito a pena ler, mesmo que fiquem milhares de referências, até na Marvel com o Hulk, acabando com o mistério de descobrir quem realmente era o Mr. Hyde.
E vale a pena assistir o filme O Segredo de Mary Reilly! Fica a dica!
O Médico e o Monstro(1886; edição da Martin Claret de 2012)
Editora: Martin Claret
Autores: Robert Louis Stevenson
Páginas: 54 (novamente, essas não são as páginas totais do livro, mas as que compreendem a estória nessa edição!)
Ps.: E novamente me empolguei no tamanho da resenha… HAHAHA tenham paciência que escrevi cada palavra com carinho hehe
Mila, tu se superou…”simiesco” foi massa! Quem dera eu falar tão bem assim ou conseguir expor opinião desta maneira. Uma pena eu não me sentir à vontade pra conseguir tal feito. Principalmente na Internet. Você tem coragem, talento, e pelo que notei desde sempre, vontade de por a boca no trombone (esta é tão piegas quanto a palavra piegas heheh), sorte pra ti, em TUDO! 🙂
HAHA… quando você quer consegue se expressar bem sim…
Muito obrigada! Pelas palavras piegas também HAHA 🙂
Beijos!
Eu não sei se leria. Nunca tive vontade de conhecer essa história, mas achei interessante as palavras que você usou para descrever o conto: mas rico em conteúdo do que em narrativa. Sei que isso existe, mas ainda levo em consideração a narrativa dos contos/romances que leio. Acho que me entendes…
Beijos.
Então… sempre morri de vontade de ler essa história, mas talvez tenha sido pelos filmes, e pela grande quantidade de referências usadas no cinema, teatro e literatura.
Me desapontei muito com a narrativa em si. Por ser curto creio que valha a pena pra poder formar a opinião e não ser linchado ao falar que um clássico é meio “fraco” na narrativa, rsrs 🙂
Beijos