Deuses Americanos #OGS70

por | fev 27, 2014 | Resenhas, Sem categoria

deuses americanos

 

Deuses Americanos me fez viajar em teorias bizarras, pesquisar mitologias diferentes a rodo para conhecer esses outros deuses e pensar em como realmente é uma terra ruim para os deuses antigos.

 

ATUALIZAÇÃO! 23/03/16

E para minha alegria, a série de Deuses Americanos (American Gods) vai ser mesmo produzida, com participações do Gaiman como roteirista #morrendo e Bryan Fuller (de Hannibal e Pushing Daisies) e Michael Green como escritores e produtores! As filmagens já começam mês que vem! A última notícia de casting pra essa série foi do Mad Sweeney e da Bilquis aqui

Depois de terminar a Bíblia que foi o Dança dos Dragões, fiquei com vontade de ler algo diferente, aí, olhei pra estante, aquele momento de não saber qual da penca de livros que você num ímpeto consumista comprou e ainda não leu, e acabei olhando pro cantinho do Neil Gaiman de livros não lidos, eu sempre acabo voltando pra ele. Não tem como. HAHA

Tinha duas opções, Lugar Nenhum e Deuses Americanos, o segundo me chamou com sua voz cabalística e comecei a ler.

E agora que terminei está me batendo uma saudade estranha do Shadow, tio Nancy e cia., até mesmo do Wednesday. Enquanto lia ia até criando teorias bizarras dentro das minhas concepções existenciais e crenças para encaixar toda aquela ficção do Gaiman que soa tão real. (sim, eu faço muito isso)

Deuses Americanos trata de uma ideia simples, quem são os deuses americanos? O que acontece quando um mix de crenças segue os imigrantes? Pra onde vão os deuses? Eles os acompanham?

As pessoas acreditavam, Shadow pensou. É isso que as pessoas fazem. Acreditam. E depois não se responsabilizam por suas crenças; fazem coisas aparecerem e depois não acreditam nas aparições. As pessoas povoam a escuridão com fantasmas, deuses, elétrons e histórias. As pessoas imaginam e acreditam, e é essa crença, essa crença sólida como a pedra, que faz as coisas acontecerem.

Deuses Americanos, Neil Gaiman, Pág 403

Muitos costumes que temos seja lá na América do Norte ou aqui mesmo pegam um bocado de rituais de outras crenças, alguns feriados, e nós comemoramos tudo sem ao menos saber o porquê de o fazer. E o que acontece com um deus quando as pessoas deixam de acreditar nele, fazem seus rituais se tornarem meramente um costume automático sem significado? E os deuses novos que idolatramos, a tecnologia, a tv, a ciência, deuses esses aos quais sacrificamos nosso tempo, nossa vida social, nossa criatividade, nossas ideias. Em quem acreditamos cegamente e damos tudo que temos, conscientemente ou não.

Shadow é um cara comum, quietão, com inteligência média, um armário de pessoa, que acaba sendo contratado pelo senhor Wednesday, que diz depois ser um deus e precisa da ajuda dele porque uma tempestade está vindo. E entre as guerras de deuses antigos e os novos, conhecemos Kali, Anubis, Bastet, Hórus, Easter, Odin, Anansi, Czernobog e mais uma penca. Todos envolvidos nessa questão do que um deus faz quando é esquecido, como sobreviver nessa “terra ruim para os deuses” onde ninguém mais acredita em nada, ou acredita… mas é nos deuses recentes e essa fé cega, o livro é de 2001, mas se fosse de agora, certeza que apareceria um tal deus apple aí… só digo isso.

O livro vai contando essa história do Shadow e cia, mas a cada final de capítulo temos um corte para outros tempos, quando outros rituais eram praticados e outros deuses nasciam, vemos Bilquis, os deuses tribais, a vinda de escravos africanos pra Ilha de São Domingos, que viraria Haiti posteriormente, e vemos tudo se formando. São cortes que no começo achei estranhos, porque fogem completamente da história base, mas depois vão te complementando e trazendo trechos incríveis daquele jeito que o Gaiman sempre consegue fazer.

Nenhum homem, proclamou Donne, é uma ilha, e ele estava errado. Se nós não fôssemos ilhas, estaríamos perdidos, afogados nas tragédias dos outros. Nós nos isolamos (uma palavra que significa, literalmente, lembre-se, ser transformado em ilha) da tragédia dos outros por nossa natureza de ilha, e pelo desenho e pela forma repetitiva das histórias. O desenho não muda: havia um ser humano que nasceu, cresceu e então, por causa de uma coisa ou de outra, morreu. Pronto. É possível preencher as lacunas com base em sua própria experiência. Tão sem originalidade como qualquer outro conto, tão único como qualquer outra vida. Vidas são flocos de neve, formando figuras que já vimos antes, tão parecidos uns com os outros quanto as ervilhas de uma vagem (e você já olhou para as ervilhas em uma vagem? Eu quero dizer, olhou mesmo para elas? Depois de um minuto de exame atento, não há chance de você confundir uma com a outra), mas, ainda assim, única.
Sem indivíduos, enxergamos apenas números, mil mortos, cem mil mortos, “o número de vítimas pode chegar a um milhão”. Com histórias individuais, as estatísticas se transformam em pessoas – mas até isso é mentira, porque as pessoas continuam a sofrer em números que, por si só, são entorpecentes e sem sentido. Olhe, veja a barriga inchada do menino e as moscas que andam sobre o canto dos olhos dele, seus membros esqueléticos: vai ajudar se você souber seu nome, idade, sonhos e medos? Se enxergá-lo por dentro? E, se ajudar, será que não estaremos prestando um desserviço à irmã dele, que está ali ao lado, estirada na poeira abrasadora, uma caricatura distorcida e inchada de uma criança humana? E daí, se lamentarmos por essas duas crianças, será que elas agora passarão a ser mais importantes para nós do que as milhares de outras crianças atingidas pela mesma fome, milhares de outras vidas jovens e contorcidas que logo se transformarão em alimento para as moscas?
Nós desenhamos nossos limites ao redor desses momentos de dor… continuamos em nossas ilhas, e eles não podem nos ferir. Ficam escondidos sob uma cobertura nacarada, suave e segura para que escorreguem, como as ervilhas, de nossas almas sem que sintamos dor verdadeira.

Deuses Americanos, pág 244

A história corre de uma forma que às vezes parece imprevisível, e não se sabe para onde vai rumar, mas você não se importa, só quer continuar lendo de forma frenética, mesmo sabendo que se fizer isso o livro vai acabar mais rápido e vai trazer aquele vazio de “não quero começar outro. deixe-me voltar.”

É um livro incrível, que me fez ficar mais apaixonada ainda pela escrita dele, #fangirling, e que me cria uma necessidade de ler Os Filhos de Anansi, que é uma espécie de continuação, onde o personagem principal descobre que é filho do deus-aranha.  (tio Nancy <3)

Venha aqui para ver os outros trechos de Deuses Americanos que separei

Deuses Americanos
Autores: Neil Gaiman
Editora: 
Conrad
Páginas: 448

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EEE!

A parte mais linda desse post! O Gaiman postou no seu blog oficial que a adaptação para tv de Deuses Americanos vai FINALMENTE sair, amém, chessus, pela FremantleMedia North America, depois de uma enrolação eterna da HBO, além do mais, uma minissérie de Anansi Boys, Os Filhos de Anansi também será produzida pela BBC (BBC, te amo), então ‘bora esperar por isso ansiosamente e já ler tudo pra não ter spoilers desnecessário hahaha (vi no Omelete e NerdPride)

 

#ansiedadebateu

 

 

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