Onde Cantam os Pássaros – OGS #133

por | jun 21, 2016 | Resenhas, Sem categoria

editora darkside

E vamos para a primeira resenha de um livro da Darkside aqui no Castelo! Onde Cantam os Pássaros da Evie Wyld me deixou confusa, me deixou nervosa, me fez reler tudo pra entender melhor. Confere aqui o arrepio que tive com Jake…

Sinopse: No premiado romance de Evie Wyld, a fazendeira Jake White leva uma vida simples numa ilha inglesa. Suas únicas companhias são rochedos, a chuva incessante, suas ovelhas e um cachorro, que atende pelo nome de Cão. Tendo escolhido a solidão por vontade própria, Jake precisa lidar com acontecimentos recentes que põem em dúvida o quanto ela realmente está sozinha – e o quanto estará segura. De tempos em tempos, uma de suas ovelhas aparece morta, o que pode ser muito bem obra das raposas que habitam a floresta próxima à sua fazenda. Ou de algo pior. Um menino perdido, um homem estranho, rumores sobre uma fera e fantasmas do seu próprio passado atormentam a vida de uma mulher que sonha com a redenção.

E faz um bocado de tempo ganhei um sorteio da Darkside pelo Twitter. O livro que ganhei era justamente esse, Onde Cantam os Pássaros da Evie Wyld. Tempo vai, tempo vem, finalmente consegui ler o bendito e vir aqui passar essa confusão mental toda que fiquei. haha

Como eu peguei pra ler numa fase atribulada do mês, fui lendo capítulos picadinhos. O que me fez entender só depois a dinâmica do livro. E que me fez achar um bocado confuso. HAHA Mas isso é devido às falhas de Camila leitora, não do livro. Tanto que peguei o livro todo de novo e reli. Completando o tal quebra-cabeça louco dessa autora.

“Elas não guardavam ressentimento, as ovelhas.”

Onde cantam os pássaros, Evie Wyld, p. 42

Achei um livro excelente depois de toda essa discussão sobre feminismo, cultura do estupro, e tudo o mais que deu pra acompanhar online, após a resenha de Zetman que apareceu por aqui, é um livro que adiciona mais um exemplo e permite mais discussões à tudo isso. Foi um complemento perfeito.

Eu demorei para sacar que o livro é uma organização de duas linhas do tempo inversas. Uma delas funciona da forma corriqueira, rumando para o futuro, a outra vai andando pro passado. Cada vez mais fundo nas cicatrizes de Jake. E cada vez te deixando mais tensa. Quando percebi isso e terminei o livro, voltei logo pro começo e reli tudo. Para pegar as nuances e pecinhas que deixei passar.

Eu adoro quando o narrador personagem se expõe de forma tão aberta, mas tão aberta que deixa o leitor incomodado. É a mente da personagem afinal. Ela não tem máscaras. Não tem etiqueta. Ela só é. E a Evie Wyld consegue fazer isso com primor com Jake. Eu fiquei realmente incomodada com a sinceridade da protagonista. Com a maneira como ela usava as palavras, expunha as opiniões. Ela abriu sua vida e sua mente, e a primeira reação que tive foi dar aquele passo para trás, meio chocada, para só depois chegar junto, sentar do lado e ouvir de verdade.

A vida de Jake vai se desvelando aos poucos, capítulo a capítulo (as linhas do tempo se revezam, um capítulo cada uma, uma hora estamos na Austrália, outra na Inglaterra), como é devagar, você fica inventando possibilidades do porquê ela é daquela forma, do porquê ela tem as cicatrizes, os problemas emocionais, a loucura, a tensão ao chegarem perto, e essas possibilidades são assustadoras.

Quando cheguei na parte em que encontramos Otto pela primeira vez, eu literalmente senti um arrepio percorrer minha coluna e fiquei com medo de continuar a ler. De repente, eu não queria mais saber o que era o passado dela, até que ponto tudo ia, eu não queria ficar sabendo da verdade por meio dessa forma escancarada de falar a verdade de Jake. Eu temi por ela e temi por mim.

Nesse ponto da resenha, vou admitir que fiquei mais tranquila quando entendi a história completa (da relação dela com Otto) e vi que o caminho era outro do que minha mente tinha articulado. Respirei até aliviada e o livro fluiu mais tranquilo. Não sem mais momentos de tensão, claro, mas nada equivalente àquilo que senti quando imaginei outra coisa, na minha concepção, pior.

A maneira dela falar das ovelhas, dos pássaros, de descrever as sensações, cheiros e até do que a deixava confortável ou não, são magníficas.

““Diabo de mãos grandes”, diz um homem chamado Alan, segurando minhas palmas abertas no bar de Fleeced Lamb, em Kalgoorlie. Há algo na maneira profissional com que ele segura minhas mãos que me faz relaxar, como se ele estivesse olhando para o casco de uma cabra.”

Onde cantam os pássaros, Evie Wyld, p. 70

O passado da Jake, a ordem das escolhas que ela travou e que a foram levando de etapa para etapa, as tragédias que ela foi acumulando em cima das costas, a falta de apoio, de compreensão, tanto dela quanto dos que estavam à sua volta… tudo vai construindo esse livro de terror psicológico tenso. Construindo de forma maravilhosa.

Você consegue sentir pena, raiva, intolerância, empatia, tudo. Cheguei a sentir tudo isso pela Jake. A cada capítulo eu mudava o que sentia, foi uma experiência de imersão na vida de de outra pessoa imensamente interessante. Deu até para tirar aquele momento de reflexão quando comecei a julgar as escolhas de Jake e parei para pensar sobre minha própria atitude haha

Uma coisa que fica em aberto é a questão da coisa que está  matando as ovelhas, pela vibe intencionada, fiquei me perguntando se não é o que usam para designar depressão, síndrome do pânico e tudo o mais na Inglaterra, que é o que, claramente, a Jake está passando. Bem ao estilo do que fizeram em Babadook (filme excelente aliás, assistam.). Que é a questão do Black Dog, o cão dos maus presságios, que nem aparece no Cão de Baskervilles, só que o Lloyd também enxerga no final, então fiquei dividida. haha (selecione esse espaço pra ler o que quero dizer, talvez contenha uma espécie de spoiler. Então leia por conta e risco.)

A edição da Darkside, como sempre, é impecável e adiciona lindamente. As páginas pretas, esse clima de colcha de retalhos que já começa na capa dura… tudo lindo. <3

E é por essa soma de sensações, de terror, de tensão, de arrepios descendo minha coluna e pelo final bem Lovecraft, que essa primeira resenha de livro da Darkside já começa com cinco honrosas estrelas. 🙂

Onde Cantam os Pássaros
Autores: Evie Wyld
Editora: Editora Darkside
Páginas: 256
cinco estrelas

2 Comentários

  1. Gislaine

    Oi, tudo bem? Primeira vez passando aqui no site e já dou de cara com essa resenha maravilhosa!
    Devo admitir que nunca me senti atraída por esse livro (talvez pela capa, que não fazia sentido pra mim) e nunca nem cheguei a ler a sinopse. Foi só ler uma resenha que minha opinião mudou completamente e estou extremamente triste de ter perdido tanto tempo para ler esse livro. Quero urgentemente!
    Gislaine | Paraíso da Leitura

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    • Camila

      Olá, Gislaine!

      Oloko. Que beleza! Fico super feliz por ter gostado, foi uma resenha que fiz com muito gosto! <3
      Vale a pena a leitura, é uma imersão diferente de muita coisa que a gente vê por aí 🙂
      Volte sempre 😀

      Abs!

      Responder

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