E lá vamos nós ficar com vontade de andar pelas avenidas russas no século XIX… Em Avenida Niévski somos levados por Gógol a passear por duas facetas dessa enorme avenida russa
Sinopse: Um dos contos mais representativos de Nikolai Gógol, Avenida Niévski faz parte da série de histórias petersburguesas escritas pelo autor russo entre 1832 e 1842, ambientadas na capital do império. Aqui, Gógol aponta para a modernidade e faz do espaço urbano o centro da narrativa. “Ah, não acredite nessa avenida Niévski! […] Tudo é ilusão, tudo é sonho, nada é o que parece!”, diz o narrador a certa altura. O ambiente da cidade, enganosamente cotidiano, emerge com ares fantásticos e absurdos e determina o destino do tenente Pirogóv e do jovem pintor Piskarióv, verdadeiros flâneurs russos que se deixam levar pelos encantos de duas passantes. Com tradução de Rubens Figueiredo, o livro é ilustrado com gravuras de 1830-35 que reproduzem a avenida de ponta a ponta. A disposição do texto nas páginas está dividida em dois blocos espelhados, numa referência ao fluxo dos passantes por ambos os lados da via. Em dois volumes embrulhados num jornal da época, a edição inclui ainda “Notas de Petersburgo de 1836”, crônica de Gógol inédita no Brasil, em que o autor discute o cenário cultural da cidade.
E eu acho que tenho esse livro desde o lançamento… Fui numa Bienal de Design e lá estava o bendito, lindo, maravilhoso, envolto por uma folha de jornal em russo. Eram dois livros, o Avenida Niévski, com uma diagramação louquíssima que me conquistou na hora. E o Notas de Petersburgo de 1836.
“Não só quem tem vinte e cinco anos de idade, lindos bigodes e sobrecasaca admiravelmente benfeita, mas até quem tem pelos brancos que repontam no queixo e a cabeça lisa como uma travessa de prata se entusiasma com a avenida Niévski.”
Avenida Niévski, Nikolai Gógol, p. 30
Sabe quando você não quer ler o livro porque vai acabar com a magia de ler pela primeira vez? Então. Passaram-se anooos, e finalmente o peguei em minhas mãos para marcar como lido e vir aqui resenhar. haha
Foi minha primeira leitura de Gógol, até saí falando que era a cara dos livros que um Rafael escreveria… (O Rafa que escreve aqui, na ilustre seção das Rapidinhas) e fiquei completamente apaixonada.
O autor teve lá seus problemas pessoais de aceitação, autoestima, depressão e o escambau… mas, gente, como esse homem escrevia.
“E que mangas de roupas de senhoras encontramos na avenida Niévski! Ah, que encanto! São um pouco parecidas com duas esferas de balão a gás, como se a senhora fosse erguer-se no ar de repente, caso o marido não a segurasse; pois é tão fácil e agradável erguer no ar uma senhora como levar à boca uma taça cheia de champanhe.”
Avenida Niévski, Nikolai Gógol, p. 44
O jeito como ele torna os detalhes cotidianos parte importante da observação, a maneira como ele vai tecendo os lados da avenida, as facetas, como ela muda a cada horário dia. As sacadas que me fizeram ficar rindo…
“De repente, começa a primavera na avenida Niévski: ela fica inteiramente coberta de funcionários de uniforme verde.”
Avenida Niévski, Nikolai Gógol, p. 48
“Nessa hora, habitualmente, não convém que as senhoras saiam, porque o povo russo gosta de empregar expressões tão brutas como certamente elas não ouvem nem no teatro.”
Avenida Niévski, Nikolai Gógol, p. 35
O mais lindeza é que a diagramação sendo dessa forma como apareceu na foto ali em cima é aliada com o modo como o narrador vê a avenida… ele começa vendo uma faceta dela… suas pessoas, suas belezas, o jeito como tudo vai se modificando a cada instante que passa. Aí. Aí o livro inverte. E também inverte-se a visão. A parte negativa, a desilusão pessoal… é tudo muito excelente. E eu fiquei muito apaixonada de verdade. HAHAHA
Não tenho nem mais o que falar… apenas deixo a dica de leitura (quase uma ordem…) e um desejo enorme de conhecer essa avenida Niévski na época de Gógol…
Autores: Nikolai Gógol
Editora: Cosac Naify
Páginas: 134
(e um enorme coração)
Em pensar que eu também comprei esse livro lindo há milênios e ainda não liiii! Agora preciso, haha