“Bloom a abraça com força e dá à luz oito filhos amarelos e brancos. Eles surgem em uma escadaria atapetada de vermelho e enfeitada com plantas caras. São todos bonitos, com valiosos rostos metálicos, bemproporcionados, vestidos respeitavelmente e com bonsmodos, falam cinco línguas modernas com fluência e se interessam por diversas artes e ciências. Cada um tem seu nome impresso em letras legíveis no peito da camisa: Nasadoro, Goldfinger, Chrysostomos, Maindorée, Silversmile, Silberselber, Vifargent, Panargyros. São imediatamente nomeados para cargos públicos de confiança em vários países como gerentes de bancos, tráfego em ferrovias, presidentes de companhias de risco limitado, vicepresidentes de redes de hotelaria.”
Em um tijolaço de mil páginas, James Joyce alterna uma narrativa transcendental envolvendo seu jovem alter ego Stephen Dedalus e o homo superior Leopold Bloom, numa absurda paródia da Odisseia ocorrida completamente dentro de um único dia comum na Irlanda.
Focado num fluxo de narrativa pesadíssimo, escrito de diversas formas diferentes, Ulysses é uma leitura por demais complicada. Muitos capítulos são terrivelmente entediantes (uma coisa meio Joyciana na minha opinião) e o perigo de desistência é enorme. Mas quando você se presta a superá-los a recompensa é incrível. Quando você descobre o que cada coisinha representa, o que aquele personagem realmente quis dizer, o que realmente aconteceu aqui e ali. Para isso, assim como Graça Infinita, não posso recomendar sua leitura solitária e sugiro a leitura conjunta da obra Sim, eu digo sim, de Caetano Galindo (do qual sou um grande fã), uma visita guiada ao Ulysses que ajuda bastante a compreender os acontecimentos mais absurdos e os detalhes que nem sempre são sutis, mas estão escondidos nas palavras grandes que nos dão medo e podem passar despercebidos. A introdução da edição da Penguin é também famosa e recomendadíssima.
Todo o tempo que você vai gastar nessa leitura será recompensado em especial pelo capítulo de Circe, que domina 1/5 de todo o volume e é de longe a coisa mais incrível que eu já tive o prazer de ler na minha vida e do qual estou no momento absolutamente convencido, jamais será superado, muito embora o monólogo final seja considerado o momento mais sublime da literatura por muitos críticos famosos e ainda exista um livro posterior à esse, cuja coragem para enfrentar eu ainda não disponho.
Cacete, quem sou eu pra resenhar esse livro? Eu desisto. Não tenho como. Pra mim chega, é isso.
É óbvio que pela segunda vez na história das Rapidinhas, nós temos um livro que explodiu o Medidor de Gabos, ganhando uma nota não apenas infinita, como também inclassificavelmente bizarra.
Saiba mais no Skoob
Ulysses – James Joyce
1112 páginas – Penguin Companhia
“Cacete, quem sou eu pra resenhar esse livro? Eu desisto. Não tenho como. Pra mim chega, é isso.”
Uma ótima maneira de resumir o sentimento por Ulysses. Eu acho esse livro genial, então acho que também daria uma nota infinita hehehe.